Um dado preocupa as autoridades sanitárias nacionais. Em 2008, o Brasil assumiu o posto de maior consumidor de agrotóxicos em todo mundo, posição antes ocupada pelos Estados Unidos. Só o mercado de agrotóxicos movimentou mais de US$ 7 bilhões.
Para proteger a saúde da população dos riscos associados ao uso destes produtos nas culturas agrícolas nacionais, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
trabalha na reavaliação de substâncias ativas utilizadas em agrotóxicos no
Brasil. “Como o registro de um agrotóxico é eterno, a reavaliação ocorre quando
há alguma alteração de riscos à saúde, em comparação aos riscos avaliados
durante a concessão de registro de determinada substância ativa”, explica a
gerente de avaliação toxicológica da Anvisa, Letícia Rodrigues.
Até hoje, a Agência já
proibiu o uso de quatro ingredientes ativos e restringiu severamente o uso de
outros 19, utilizados na fabricação de mais de 300 agrotóxicos no país. “Nesse
processo, destaca-se a proibição do uso como inseticida doméstico para o
ingrediente ativo clorpirifós. Essa substância afetava o desenvolvimento
neurológico e cognitivo de crianças que ficassem expostas a ela”, afirma
Letícia.
Paralisação
Em 2008, uma série de
decisões judiciais impediram a Anvisa de realizar a reavaliação de 14
ingredientes ativos (utilizados em mais de 200 agrotóxicos). “Empresas de
agrotóxicos e o próprio Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa
Agrícola recorreram ao Judiciário para impedir a Anvisa de cumprir seu papel”,
critica a consultora jurídica do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC),
Andrea Salazar.
Esse cenário contribuiu para
o Brasil continuar a produzir e importar agrotóxicos proibidos em diversos
países do mundo. “O que não se consegue mais vender para a União Européia,
Estados Unidos, Canadá, Japão e China, acaba vindo parar no mercado brasileiro”,
complementa Rosany Bocher, coordenadora do Sistema Nacional de Informações
Tóxico-Farmacológicas da Fundação Oswaldo Cruz.
A consultora jurídica do
IDEC, Andrea Salazar, acredita que só após a existência de jurisprudência sobre
o tema as barreiras jurídicas serão vencidas. “A superação desse entrave
acontecerá a partir da pacificação da jurisprudência no sentido de reconhecer a
imprescindibilidade da reavaliação dos agrotóxicos para a preservação da saúde
da população, garantida textualmente pela legislação vigente.”, afirma
Andrea.
Após moção de apoio do
Conselho Nacional de Saúde, amplo apoio da sociedade civil organizada e recursos
por parte da Advocacia Geral da União, a Anvisa consegui reverter as decisões
judiciais para a reavaliação de 13 substâncias ativas. Somente a reavaliação do
acefato foi declarada nula. As demais reavaliações foram retomadas e estão
previstas para serem finalizadas até junho de 2009.
O pimentão foi o alimento que apresentou o maior índice de irregularidades para resíduos de agrotóxicos, durante o ano de 2008. Mais de 64% das amostras de pimentão, analisadas pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) (PDF) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apresentaram problemas. O morango, a uva e a cenoura também apresentaram índices elevados de amostras irregulares, com mais de 30% cada.
Os desvios detectados pelo PARA foram:
teores de resíduos de agrotóxicos acima do permitido e o uso não autorizado para
determinadas culturas. No balanço geral, das 1773 amostras dos dezessete
alimentos monitorados (alface, batata, morango, tomate, maça, banana, mamão,
cenoura, laranja, abacaxi, arroz, cebola, feijão, manga, pimentão, repolho e
uva), 15,28% estavam insatisfatórias.
A cultura de tomate foi a que apresentou maiores avanços quanto à diminuição
dos índices de irregularidades. Em 2007, 44,72% das amostras de tomate
analisadas apresentaram resíduos de agrotóxicos acima do permitido. No último
ano, esse número caiu para 18,27%.
O arroz e o feijão, coletados pela
primeira vez no Programa de 2008, apresentaram índices de irregularidades de
3,68% e 2,92% respectivamente. Juntamente com a manga, batata, banana, cebola e
maçã, esses dois alimentos apresentaram os menores teores de irregularidade
detectados.
A batata, que em 2002, primeiro ano de monitoramento do
Programa, apresentou um índice de 22,2% de uso indevido de agrotóxicos, teve o
nível reduzido para 2%. A banana, que chegou a apresentar índice de 6,53% neste
período, fechou 2008 com incidência de 1,03% de irregularidades.
Chama
atenção, nos resultados do Programa, o uso de agrotóxicos não permitidos, em
todas as culturas analisadas. Ingredientes ativos banidos em diversas partes do
mundo, como acefato, metamidofós e endossulfam, foram encontrados de forma
irregular nas culturas de abacaxi, alface, arroz, batata, cebola, cenoura,
laranja, mamão, morango, pimentão, repolho, tomate e
uva.
PARA
O objetivo do PARA, criado em 2001, é manter a segurança alimentar do consumidor e a saúde do trabalhador rural. O Programa, coordenado pela Anvisa em conjunto com os órgãos de Vigilância Sanitária Estaduais e Municipais, abrange, atualmente, 25 estados e o Distrito Federal.
Em 2008, realizaram coletas em supermercados (de acordo com o plano de amostragem) os estados do Acre, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe, Tocantins e Distrito Federal. Neste mesmo ano, as ações de ampliação do Programa treinaram os estados de Amapá, Amazonas, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima. Os dez estados treinados, mais São Paulo, participarão do PARA em 2009.
A escolha dos itens analisados pelo Programa leva em consideração a importância destes alimentos na cesta básica do brasileiro, o consumo, o uso de agrotóxicos e a distribuição das lavouras pelo território nacional. No último ano, o PARA acompanhou oito novas culturas, até então nunca monitoradas: abacaxi, arroz, cebola, feijão, manga, pimentão, repolho e uva.
O Programa funciona a partir de amostras coletadas pelas vigilâncias sanitárias dos estados e municípios. No último ano, as amostras foram enviadas para análise aos seguintes laboratórios: Instituto Octávio Magalhães (IOM/FUNED/MG), Laboratório Central do Paraná (LACEN/PR) e Instituto Tecnológico de Pernambuco (ITEP), nas quais foram investigadas até 167 diferentes agrotóxicos.
Caso a utilização de agrotóxicos esteja em desacordo com os limites permitidos pela Anvisa, os órgãos responsáveis pelas áreas de agricultura e meio ambiente são acionados para rastrear e solucionar o problema.
“ Trabalhadores rurais são expostos a estes agrotóxicos sem os equipamentos próprios para o manejo destes produtos”, explica José Agenor Álvares, diretor da Anvisa. As medidas em relação aos produtores são, principalmente, de orientação para que sejam adotadas as Boas Práticas Agrícolas (BPAs).
Cuidados
Para reduzir o consumo de
agrotóxico em alimentos, o consumidor deve optar por produtos com origem
identificada. Essa identificação aumenta o comprometimento dos produtores em
relação à qualidade dos alimentos, com adoção de boas práticas
agrícolas.
É importante, ainda, que a população escolha alimentos da
época ou produzidos por métodos de produção integrada (que a princípio recebem
carga menor de agrotóxicos). Alimentos orgânicos também são uma boa opção, pois
não utilizam produtos químicos para serem produzidos.
Os procedimentos de
lavagem e retirada de cascas e folhas externas de verduras ajudam na redução dos
resíduos de agrotóxicos presentes nas superfícies dos
alimentos.
Os agrotóxicos não são os únicos vilões!
Ingerimos metais tóxicos (peixes contaminados por mercúrio), acrilamida (substância cancerígena presente, principalmente, nas batatas fritas), drogas veterinárias quando consumimos carnes...Enfim, a lista é grande.
Conselhos:
- Verifique sempre a procedência e o rótulo do produto;
- Se puder, prefira consumir produtos orgânicos. Infelizmente, normalmente, são mais caros;
- Varie a alimentação. Não coma todo dia a mesma coisa. Comendo alimentos variados, você diminui sua exposição a uma determinada substância tóxica;
- A batata deve ser guardada num local escuro (na despensa, por exemplo) e não na geladeira onde a temperatura é mais baixa. Quanto mais baixa for a temperatura de conservação,
maior a quantidade de açúcares redutores que se forma. Estes estão relacionados
com os maiores níveis de acrilamida que se formam, quando se fritam ou assam
batatas;
- As batatas quando fritas ou assadas devem apenas alcançar um tom
amarelo-dourado e não acastanhado;
- Verifique sempre o rótulo quando comprar batatas. Apesar de nem sempre estar referido, tente saber qual é a sua variedade e origem, bem como para que tipo de utilização estão mais indicadas;
- Verifique sempre o rótulo quando comprar batatas. Apesar de nem sempre estar referido, tente saber qual é a sua variedade e origem, bem como para que tipo de utilização estão mais indicadas;
- Se quiser fritar, escolha variedades de batata apropriadas para tal, ou
seja, com valores reduzidos de açúcares redutores, de forma a minimizar a
formação de acrilamida. A batata "rosa" é a indicada para frituras.
- Evite cozinhar demasiado os alimentos (para evitar a caramelização excessiva). Seguindo as intruções de confecção indicadas nas embalagens dos alimentos ajuda a atingir este objetivo. Adicionalmente, altere a sua forma de cozinhar, incluindo mais cozidos com água ou a vapor e métodos semelhantes que ajudem a manter a formação de acrilamida em níveis mínimos. Uma vez que alguns dos alimentos com elevados níveis de acrilamida também são muito energéticos, estes devem ser consumidos apenas com moderação, como parte de uma dieta equilibrada e saudável.
- Evite cozinhar demasiado os alimentos (para evitar a caramelização excessiva). Seguindo as intruções de confecção indicadas nas embalagens dos alimentos ajuda a atingir este objetivo. Adicionalmente, altere a sua forma de cozinhar, incluindo mais cozidos com água ou a vapor e métodos semelhantes que ajudem a manter a formação de acrilamida em níveis mínimos. Uma vez que alguns dos alimentos com elevados níveis de acrilamida também são muito energéticos, estes devem ser consumidos apenas com moderação, como parte de uma dieta equilibrada e saudável.
Quer saber mais sobre acrilamida?
Fonte: Anvisa; Workshop Frutas e Hortaliças com agrotóxicos - Semana Universitária UnB; proteste; eufic.
Excelente matéria! Assunto muito importante para quem trabalha com alimentos, saúde e precisa estar munido dessas informações para atuar e repassar aos indivíduos que tem contato.
ResponderExcluirRegina